segunda-feira, 19 de maio de 2008

Comidas e amiguinhos

Com aqueles bichinhos vorazes aqui por dentro, há que atentar ao que se ingere, fazer esforço todos os dias para que os apetites não esmoreçam, procurar alimentos que me sirvam de nutrimento e que ao mesmo tempo esganem os caranguejos despudorados.
Não me vejo como esquisito de boca mas alguns alimentos não atravessam a garganta desde pequeno. Lembro-me de, apenas uma vez, ter ido à caça. Devia rondar os meus 7, 8 anos de idade e o drama passou-se numa quinta perto da Guarda onde o meu padrinho possuía uma quinta. Um belo dia o pai do meu padrinho convidou-me para o acompanhar à caça. Não me lembro das sensações iniciais, provavelmente de excitação e expectativa. Lembro-me apenas de um incidente depois de um tiro certeiro. Os cães explorando o terreno e nós “zanzando” de um lado para o outro em busca do almejado troféu. E surpresa das surpresas sou eu próprio que dou com um amontoado de penas em aflita agonia. Essa imagem ficou-me até agora marcada na memória. Se desenhar fosse uma possibilidade para mim, seria capaz de o descrever como se hoje tivesse acontecido. Nessa noite o jantar foi passarinhos! Não fui capaz de comer. Felizmente ninguém me obrigou. Até agora não sou capaz de comer aves abaixo do tamanho de um frango.
Num outro dia, num outro espaço, trata-se agora da casa da minha avó paterna, recordo a minha exaltação quando a primeira vez tive a oportunidade de brincar com os coelhinhos com alguns dias de vida. Aquele pelo macio, o arfar ritmado dos seus narizes húmidos e um sem número de outras sensações agradáveis... Não é necessário avançar muito na história para se perceber onde vai parar... Ao prato naturalmente! Lembro-me de meter à boca um pedaço e de sentir pela primeira vez a minha vida a sensação de vómito. Estava claro! Não era capaz! Mas alguém, alguma vez, é capaz de comer os seus amiguinhos?!


3 comentários:

Emilia Za disse...

Quando era miuda adorava coelhinhos e qualquer outro animal felpudo que me chegasse ao toque. Lembro-me bem das suas patas assustadas pressionando contra a pele das minhas maos pequenas. E lembro-me dessa sensacao se estender para alem da instrucao paterna de que os animais nao sao brinquedos. Ricas memorias, Mario!
E concordo contigo: nem os chineses mais carnivoros comem os seus Bobys; so os dos outros!
Rita O.

Anónimo disse...

...nem tartarugas sequer, manjar que tanto tinha ambicionado provar, e não faziam parte do meu grupo de animais de estimação. E estava na terra em que os ditos faziam parte das ementas "normais". Pedi o prato, fiquei expectante e eis que me aparece o dito todo aos pedaços (presumo que cozinhado) e montado artisticamente ... em forma de tartaruga. Claro está que tal como veio... ficou, ela, a tartaruga, no prato e eu com fome. Beijinhos Gene

Anónimo disse...

Pois eu felizmente não tenho desses entraves, talvez porque nunca consigo destrinçar no prato ou na panela os ditos animais. O tempero, o sabor e os odores sobrepõem-se transformando-os em algo de diferente.
E depois de comer gafanhotos lá pelas terras asiáticas, está tudo dito. melhor que redbull e também dá asas