terça-feira, 22 de julho de 2008

O Castelo das Curas

Ontem foi mais um dia de ataque químico aos caranguejos. Desde a minha chegada por volta das 15 horas até por volta das 18 os generais procuraram a resposta a um pequeno achaque febril nos 2 dias anteriores. Felizmente não era nada de grave e a batalha foi em frente.
Desta vez cometi um erro terrível. Esqueci-me de levar um dos meus livros para me transportar para fora de ambientes menos agradáveis se existissem.
Quando chego o meu companheiro de quarto está adormecido profundamente. Nem a nossa entrada cuidada afastou a trompa dos seus lábios. Que hábito estranho este de dormir e tocar música ao mesmo tempo.
Passado um bom bocado, que aproveitei para sistematizar as coisas positivas e negativas da semana anterior, o Urai acordou. Fiquei a saber que aos 10 anos veio da Argélia e que era agora cidadão francês de pleno direito, pois fez questão de dizer umas 10 vezes, sem exagero, que não tinha votado no Sarkozy mas sim na Ségolène Royal. Daí tudo bem mas a sua conversa, de vez em quando, enviesava para a doença! Eu e a minha doença, tu e a tua doença, ele a sua doença...enfim a conjugação toda completa.
Quando isso acontecia eu desapertava a garganta e dava o mote para um outro assunto: e lá na Argélia ... aquilo é muito bonito, não é?
Siiiim! Claro! E tinha uns minutos de descanso da conjugação do verbo das doenças. Mas lá no meio passado um pouquinho havia uma palavra qualquer que despoletava o discurso virado para as doenças e lá se repetia o ciclo.
Sem um livrito para disfarçar que estava a ler e não queria ouvir aquela conversa, tentei desesperadamente o truque do adormecimento...mas sem resultado!
Foram umas horitas difíceis mas lá se passaram ... é que o local onde estive ontem não é o castelo das doenças mas sim o castelo das curas. É essa a minha demanda. São esses os discursos que as pessoas com doenças tem que ouvir! ...devem ouvir!

quinta-feira, 17 de julho de 2008

14 de Julho


A data de 14 de Julho pouco diz à maioria dos portugueses mas quando se está em França é difícil não dar por ela! Primeiro que tudo é feriado e a maioria dos franceses está em todo o lado menos perto de casa. Paris está cheio de gente mas a maioria é de outras regiões, familiares de militares que desfilam na parada ou então turistas de países mais ou menos distantes.
Quando a noite cai levanta-se o fogo de artifício! É um espectáculo sublime para quem tem a sorte de conseguir um lugar no centro do Champ de Mars. Para os outros resta espreitar por entre as árvores e imaginar o resto. Foi o meu caso, pois cheguei mesmo em cima da contagem decrescente que deu início ao espectáculo. No entanto por entre cabeças e folhagem os estrondos reluzentes deram luz à cidade das luzes.
Foguetes que para mim têm o sabor de comemoração na luta contra os caranguejos. A ecografia que tive que fazer para controlar a posição da prótese biliar descobriu que os bichos continuam a mirrar. O pâncreas e o fígado estão menos dilatados e estou a ganhar peso quase por sistema.
O próximo combate está marcado para 2ª feira. Esta 6ª feira deram-me folga. Não sei se alguém deu por ela ou se foi por acaso, pois é dia de outro tipo de comemoração, daquelas que só acontecem uma vez por ano. Mas apesar de não haver química haverá certamente física, psíquica ou outra via qualquer de ataque aos caranguejos.


domingo, 6 de julho de 2008

Uma nova frente de batalha.

Bem cedinho, o metro encaminha-me até às instalações do castelo. Mais uma 6ª feira e portanto mais um dia de caça aos caranguejos está no horizonte.

No entanto, antes que a batalha química costumeira tenha o seu início, os senhores do castelo decidem-se por uma nova estratégia de ataque. Sou posto convenientemente a dormir e durante um tempo que não consigo precisar o general observa o meu interior a partir da boca. O tubo endoscópico guarda no seu interior uma preciosa surpresa: Um elástico! Ele é cuidadosamente colocado no esófago e além de naturalmente servir o propósito de evitar o rebentamento de varizes que teimosamente aí se alojaram, abre uma nova frente na batalha contra os caranguejos. Acho que não era esse o objectivo inicial, mas nestas condições os caranguejos estão agora sob a mira de uma fisga poderosa. Apesar de nos primeiros dias estar limitado a líquidos e alimentos leves, logo logo a situação vai-se alterar e aí é o tempo de utilizar mais esta arma na luta contra estes bichos de vil carácter. Felizmente que agora o apetite voltou, mas em vez de engolir vorazmente como é meu timbre, agora o bolo alimentar vai ser de quando em quando fisgado directamente aos caranguejos.

Não sei bem porquê ...mas deu-me agora mesmo um enorme desejo de “Sopa de pedra”.