terça-feira, 12 de agosto de 2008

Volta à França

Mais uma segunda-feira e mais uma sessão da guerra química contra os bicharocos. Desta vez uma espera interminável desde as 2 da tarde até às 9 da noite para estar tudo terminado, mas felizmente as condições permitiram mais este ataque. Desde a saída do castelo, após a visita de urgência, a temperatura esteve controlada, o que mostra que as bactérias estão a perder na batalha contra os antibióticos. Ao mesmo tempo o peso tem aumentado consistentemente nos últimos tempos e já vi a agulha da balança ultrapassar pela primeira vez, de há muito tempo, os 68 quilos. Por outro lado comecei um pequeno programa de exercício, na semana passada, para permitir o aumento da massa muscular ao mesmo tempo que o peso evolui positivamente. Para já estou a reagir bem ao incremento ligeiro da carga a que me tenho submetido.
À parte das enzimas do fígado que teimam em não baixar, a única coisa que não corre muito bem é a hemoglobina que reduziu a níveis abaixo do normal. A equipa de generais e outros menos graduados estudam agora a forma de resolver esta demanda. Uma das estratégias que foi avançada implica a administração de um produto chamado EPO. Sim! O EPO que os ciclistas tanto gostam, que mesmo apesar dos controlos apertados de doping teimam em abraçar com ambos os braços, pernas ou onde quer que seja possível levar uma injecção.
Se assim for pelo menos uma coisa é certa: Está fora de causa a minha participação na Volta à França do próximo ano... e logo agora que tinha começado o meu programa de exercício!


quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Torre Eiffel



Na semana que passou fui chamado de urgência ao Castelo. Uma súbita subida de temperatura tinha certamente que ser investigada ali passei quase uma semana.
Após a passagem pelas caves das urgências tive o privilégio de passar os dias seguintes num quarto com uma vista soberba para a Torre Eiffel. Esta passagem despoletou e mim um conjunto de sentires que fui escrevinhando enquanto por lá deambulava ou registando no meu gravador digital para posterior registo.
1. Ao acordar, seja de noite ou de dia, fazia questão de explorar esse meu privilégio e aproveitava para dar uma olhada. As paisagens da Torre mudam a cada momento e sempre que olhava via coisas diferentes:
2. Via um dedo apontado aos céus a evocar forças poderosas quaisquer que elas sejam, de onde quer que elas venham, para onde quer que elas vão. Elas são forças e eu tento entrar em sintonia com todas elas
3. De noite a torre transfigura-se e por vezes luzes de pirilampo pululam por toda ela encimada por um farol rotativo que a cada 30 segundos nos recorda que estamos na cidade das luzes.
4. As luzes de flash das câmaras dos turistas que ganham coragem para subir ao topo e que pelo caminho perdem uns bons euros, lembram o desperdício. Nunca aquela luz será capaz de chegar à película ou sensor digital de qualquer câmara, por mais sofisticada que seja. Lembram o desperdício e a preguiça que nos impede de ler as instruções que permitem desligar simplesmente o flash.
5. Várias vezes, enquanto admirava a torre, pensava na precariedade da estrutura que quase chega aos 120 anos. Vinha-ma à cabeça o sorriso dos sucateiros de Paris imaginando o dia em que tenham que por fim a esta estrutura fantástica.
6. Mas de vez em quando lembrava-me onde realmente estava e o seu formato em agulha evoca a inúmera quantidade de vezes em que as minhas veias foram picadas na busca do agente secreto que se infiltrou no meu terreiro. Finalmente, foi descoberto e o tratamento surtiu efeito. Para se chegar a este resultado o general das urgências convocou uma reunião de urgência (até porque são o único tipo de reuniões que conhece) com os generais responsáveis pelo batalhão anti-infeccioso. Tive o privilégio de ver chegar os 3 generais e de os ouvir solicitar a presença do general das urgências. Um meeting de 30 minutos fez mudar a estratégia. Mudaram as drogas e a estratégia surtiu efeito. Até agora não mais senti os calores típicos das invasões,
7. A altura da torre evoca-me as altas temperaturas típicas de tais ataques. Vários surtos acima de 39 fazia notar que o interior tinha sido invadido. No entanto os invasores escondem-se bem! Presumo que tenha sido um batalhão de agentes secretos a iniciar as hostilidades daí a dificuldade inicial em dar com eles.
8. A postura fálica lembra o epíteto da cidade do amor. Quem visita e se distrai com a vista dos monumentos, não se apercebe muitas vezes da agressividade latente que surge no trânsito de todos os dias de veículos e pessoas, nas estradas ou nos corredores do metro. As pessoas não são geralmente muito amorosas em Paris. Elas cruzam-se a velocidades incríveis, cortam o caminho num impulso, não deixando espaço para respirar sequer.Que me perdoem os mais sensíveis, eles devem aliás saltar este parágrafo, fechando os olhos a qualquer palavra menos própria.O frenesim de Paris, a cidade do amor, lembra-me também aquelas palavras “proibidas”, como aquelas começadas por “f”. Paris não tem nada a ver com o Porto, talvez só mesmo a inicial e uma ponte que apesar de usar o nome de Maria foi de criação do arquitecto mais conhecido de Paris. Mas porquê evocar o Porto nesta altura? Nas primeiras 2 décadas da minha existência esta cidade foi o meu porto de abrigo e uma das suas características prende-se com a linguagem própria das pessoas do norte. De vez em quando esses “genes” vêm ao de cima e apetece-me (apetece-me muito!) mandar a porra dos caranguejos pró “c...... que os f...” (Eu avisei!) Vou deixar-vos preencher os espaços e imaginar a poderosa verborreia, o discurso elevado que me vem à cabeça em determinadas circunstâncias.
9. Olhando para a torre de cabeça para baixo o formato assemelha-se a um cone de gelados. A propósito, não posso deixar de partilhar uma história que ouvi do meu companheiro de quarto poucos minutos depois de ter chegado. O paciente que antes ocupara o meu lugar era um idoso respeitável de 92 anos. Um certo dia a altas horas da noite quando o bloco se acalma e quase ninguém pulula pelos corredores o nosso amigo idoso levanta-se e evolui pesarosamente no sentido da porta. Quando aí se encontra o meu companheiro actual de quarto questiona-o se é o WC que ele procura, mas a dureza de ouvido não o permite integrar essas palavras. Na manhã seguinte contam o que se passara: O nosso amigo estava mesmo procurando o WC e na ânsia de urinar entrou por uma porta entreaberta, abriu uma outra e aliviou-se. A última porta que abriu foi a do frigorífico.Se querem um conselho ...se vierem a Paris e, por acaso, estiver calor e vos apetecer um gelado ...não peçam sabor de limão! ..Nunca se sabe ...