terça-feira, 10 de junho de 2008

A vingança dos patos


Tenho que confessar! Num destes fins de semana passados enquanto deambulávamos por terras de Champagne demos com um restaurante, perfeitamente ao acaso, completamente dissimulado entre as videiras, uma quinta totalmente dedicada à degustação de tudo e qualquer coisa à base de pato. Éramos 4 e havia 4 pratos diferentes numa das ofertas gastronómicas disponíveis. Escolhemos cada um a sua e, além de petiscar cada um dos pratos alheios, a mim calhou-me especialmente um delicioso fígado de pato envolto em aromas campestres, de que não conheço as denominações. Uma carne amarelada, que se desfazia a cada dentada, exalando os subtis sabores do campo. E surpresa das surpresas, em tempos de pouco apetite, o fígado foi todo, assim como todos os acompanhamentos. Para falar verdade a minha escolha recaiu sobre o único prato que não era regado com bebidas alcoólicas, com primazia natural para o champagne. Não é minha intenção deixar-vos as águas na boca, mas os relatos dos meus companheiros de viagem (a Carolina, o Sérgio e a Tia Ana ) foram de prazeria.
Penso agora se não teria sido por isso que o meu próprio fígado se tornou amarelado, como uma vingança à distância dos patos então saboreados. Espero que não ... que não conheço nos patos espírito vingativo ... mas enfim nunca se sabe.

Para atacar os maus fígados há que voltar ao castelo. Amanhã lá estarei de malas e bagagens para mais uns diazitos.
Os senhores do castelo souberam das minhas provas de agregação e da minha viagem a terras lusas para a defesa correspondente e assim apressaram tudo, de forma a que estivesse em forma, daqui a exactamente uma semana! Espantoso, não é?! Quais filas de espera, quais empurrões para os castelinhos privados ... não! Vamos adiantar uma semana, que é para ele poder fazer as provas mais descansado! É fabuloso!

Já que estamos em maré de aves vem-me à lembrança os métodos antigos de comunicação com pombos que transportavam anilhas. É o que vai acontecer comigo!
Mas claro que sabem que os métodos de guerra evoluíram desde a primeira guerra mundial. Agora as anilhas não são postas nas patas. São colocadas cá dentro do corpo de forma a ficarem bem dissimuladas, mais exactamente nos canais biliares (o que os serviços secretos inventam, não é?!) Sem dúvida que vai ficar bem escondido. Quem é que se lembraria de procurar, logo ali, nos canais biliares?
A mensagem que lhe está apensa diz com todas as letras: Sai bílis, sai! Se não perceberem, não faz mal! Isto está escrito em código.

Sempre tive um tom amarelado o que, associado aos meus olhos achinesados, fez com que frequentemente me perguntassem se não tinha origem oriental. A todos sempre respondia que sim, que era descendente de um bispo chinês. A maior parte das vezes ficavam na dúvida! Agora com a acentuação desta coloração talvez já acreditem. Mas espero que seja por pouco tempo. Os senhores do castelo estão a tratar disso e com o contributo das anilhas, espero chegar a Portugal tão rosado quanto cheio de energia para combater os caranguejos e qualquer outra luta que se avizinhe.

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