terça-feira, 24 de junho de 2008

Completamente agregado

© Cláudia Godinho


Foi uma experiência fantástica!
Voltar a sentir o toque gentil da minha Cláudia, sentir a vibração da sua voz no meu ouvido, sentir os aromas da sua passagem bem perto de mim ... que bom que foi!
Mais que o calor do sol, foi o calor humano o que mais que aqueceu o coração. Tudo começou no aeroporto, acabado de chegar tive a a feliz surpresa da Sofia e depois do Luís, que se cruzaram comigo a caminho do States. Depois foi um desfilar de gente simpática e amiga, que não quiseram deixar de mostrar a sua força solidária, nesta luta contra os caranguejos.
O tempo foi muito curto, muito mais curto que a pura contabilização cronológica. O tempo passou a voar. De repente e já estava no avião de regresso a Paris.
As provas de agregação correram melhor do que estava à espera. Consegui descontroir passados alguns minutos de começar, e acho que consegui disfarçar o cansaço a maior parte do tempo. Foi bom ver gente de todos os quadrantes na assistência, pena só não ter tido tempo para falar com todos eles. Foi bom voltar ao Salão Nobre, onde dei a minha primeira aula teórica, ainda de fraldas, e agora com fraldas um pouco mais compridas a que chamam de toga.
A minha disposição geral alterou-se, o apetite voltou após a colocação com êxito da prótese das vias biliares. A ida ao castelo foi coroada de sucesso e voltei mesmo um dia mais cedo do que estava previsto. Em vez de uma anilha tenho agora um tubo metálico desde a vesícula até ao duodeno e a mensagem que estava inscrita - “Sai bílis, sai” - não podia ser mais apropriada, porque logo que colocada foi “um ver se te avias”!
A cor amarelada perdurou por mais uns tempos, mas agora já praticamente desapareceu e o funcionamento do intestino melhorou substancialmente.
Mas o que mais me animou nos últimos tempos foi a constatação de que o caranguejo que se alojou no meu pâncreas está a sentir os efeitos da guerra química e reduziu de 50 para 39 mm. A ecografia que confirmou o estreitamento das vias biliares permitiu observar este efeito após apenas 3 batalhas da guerra química em que estamos envolvidos.
Sinto-me completamente agregado! Não tanto pelo título mas principalmente agregado de amizade dos amigos e pelos amigos, agregado de solidariedade nesta luta sem quartel contra os caranguejos, agregado de amor e carinho. Sem dúvida que esta confluência de agregações que me dá o alento para as novas lutas que se avizinham para destroçar este bicho infame. Se não fosse por mim, teria a obrigação de lutar por aqueles que sem interesse particular, apenas por amizade e amor, se mobilizaram das mais variadas formas nesta luta contra os caranguejos.

3 comentários:

Duarte Araújo disse...

É da agregação que surge a superação.
Curiosamente antes de te ver a agregar (não apenas no Salão Nobre...), li que um tal de Kevin Foster defende que a evolução não surge pela selecção do mais apto (a la Darwin), mas pelos seres que mais cooperam, que são mais altruistas. E isto ao nível de todas as formas de vida: uma das suas demonstrações foi com espermatozóides, esses grandes agregadores.
A agregação com os que estão contigo é indiscutivelmente mais forte que o mais apto dos caranguejos.
Agregando-me a ti com um abraço, forte como só os desportistas podem dar, e disponível como aquele entre amigos

Dayanna disse...

Parabéns! por mais um dia de vitória.
Pela agregação, pela luta!

Beijos e mande notícias!

Dayanna

catela disse...

A vida dele estava recheada por deusas- a deusa do amor, a deusa da ciência, a deusa da arte. Bem vistas as coisas, agora, até podia sentir-se no direito de fazer parte deste patamar supremo de afirmação, ele próprio se deveria (deveria ser) considerado (pelo menos) um semi-deus, o da (id)combatividade.
Como um novo no Olimpo, sentia que lhe falava algo, merecia um papel, uma função, já que inadvertidamente lhe haviam atribuído um estatuto. Tinha que pensar. Não precisou de muito. As suas deusas tinham muitas características em comum, todas elas se afirmavam pela sua necessidade de interactiva constância, de ressonâncias múltiplas (para além das suas competências, mais mundanas, digamos assim, mas não menos férteis; nada mais degradantes que deuses inférteis). Algo o impelia para que se projectasse de si mesmo, agora que em si mesmo se tinha que concentrar. Um combate inside-outside, de inversão/subversão, de quase emulação. Tido o conteúdo, faltava-lhe a forma. Como agir? Para a acção, achou por bem apelar aos deuses mais terrenos, mais habituados ao trabalho de sapa, função que ele próprio se orgulhava de preservar (à sua existencial escala, naturalmente, e para não ferir susceptibilidades). Pois bem, semi-deuses, como ele. E, um deles, disponibilizou-lhe a solução, a qual é uma excretada projecção do seu brilho, uma osmótica deusa ex-máquina (salvo a enredada semelhança com outros episódios bíblicos, se nota que, neste caso, esta deusa se transcendeu e libertou do seu agora escalarmente menos dominante criador), algo tão imperceptível como as ondas hertzianas, e, no entanto, algo tão omni-deo-ubíquo-ressonante, a agora (também) sua Internet. Mais uma deusa (interactiva e ressonante) na sua galáxia de deusas; através da qual passou a poder expandir a sua essência, absorver as texturas, os paladares, os aromas, os sons de todos os mundanos (casualmente, aspirantes a semi-deuses, quem sabe) que a ele de dirigem, em reptos de motivações variadas, mas todos (sem excepção) suspensos nas redes do acaso.

Mário,
Que as deusas estejam contigo.

Salut